segunda-feira, março 14

Helena & Luisa


A sobrinha



Acordei com um telefonema antes da sete da manha. Geralmente isso ia me deixar bem preocupada – noticia ruim sempre chega de madrugada – ou puta da vida – quem será o engraçadinho me ligando a essa hora da manha em pleno sabadao?



Mas eu estava esperando a ligação. Meus cunhados estão para ter um bebe a qualquer momento. E nos estamos em estado de alerta vermelho – mesmo estando do outro lado do mundo.



Eu sou filha única. Desse lado da família não saem nem sobrinhos nem priminhos para as minhas filhas. Todas as esperanças estão depositadas no lado Rocha da família.



Fabio tem dois irmãos. Augusto já tinha a Helena e hoje as seis e tal da manha comemorou a chegada da Luisa. Pelo que me dizem – linda.



Cada vez que um bebe nasce eu repenso os meus valores e me lembro do nascimento da Anita e da Lia. Eta coisinha feia. Eta coisinha feia que vai mudar a sua vida pra sempre.

Eu estava assistindo * lost in translation* semana passada e o ?????? diz: Não importa o que aconteça, seus filhos são as pessoas mais maravilhosas que você vai encontrar ao longo da vida.

Fiquei pensando nisso.

E juntei com todas as outras teorias que fui formulando ou roubando ao longo da minha vida de mãe (antes disso você acha que bebes são maquinas de chorar e fazer coco – e quem em sa consciência vai querer um desses?).

Pois esses bichinhos mudam mesmo a vida da gente. Primeiro e difícil acreditar que alguém tenha nos amado como nos amamos aquela coisinha enrugadinha. Depois você se descobre capaz de matar e esfolar o primeiro vagabundo que tente machucar o seu rebento.

Ai vem a fase onde você acha que o seu filho e mais bonito, mais inteligente, mais astuto e mais tudo que as outras crianças.

Mas você descobre que esta perdido mesmo quando o seu filho demora para andar de bicicleta, não tem o menor talento para teatro, e mais desafinado que uma taquara rachada – e assim mesmo você ama essa coisinha sem talento mais do que qualquer coisa na vida – incluindo o pobre do marido.



Mas não foi por nada disso que eu resolvi escrever sobre a Luisa. Eu estou escrevendo por que poucas vezes eu me arrependo de ter vindo morar na Nova Zelândia, mas hoje, quando o telefone tocou e eu não pude correr para o hospital, o remorso bateu fundo.



E uma merda saber que as minhas duas sobrinhas vão crescer do outro lado do mundo. Que eu já perdi as três primeiras festas de aniversario da Helena e que provavelmente vou perder a maioria das outras. Não vou ver o primeiro dia de aula e vou ter muita sorte se for convidada para a formatura ou para o casamento.

Vou ser sempre a tia que mora longe.



Nos não vamos nos conhecer direito, mas eu vou sempre amar vocês duas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário