Eu morava num condominio, desses com muitas, muitas crianças. E todo mundo adorava brincar na rua. Brincar na rua naquele época podia. Primeiro por que não era bem rua, era a rua dentro do condomínio. Segundo por que todo mundo se conhecia, tinha seguranças por todos os lados.
Uma noite eu desci pra brincar, eu tinha uns 9 anos, meu cabelo era enorme, ia até a o meio das minhas costas. Nunca fui de pentear o cabelo - ate hoje NÃO TENHO PENTE NEM ESCOVA. Juro.
Mas aí que eu desço prá brincar e a molecada começa a me chamar de bruxa dos sete mares. Bruxa dos sete mares prá cá, bruxa dos sete mares prá lá. Meu sangue foi subindo. Bruxa dos sete mares! Bruxa dos sete mares!
Nao me lembro de ter planejado nada minunciosamente, mas até hoje me lembro da cena em camera lenta. Um dos meninos, saiu de tras do carro onde eles todos estavam se escondendo e eu mandei-lhe uma pedrada na testa. A testa abriu.
Eu voei prá minha casa.
Minha mãe deve ter estranhado eu chegar tão cedo em casa, mas não falou nada.
Uma duas horas depois, toca a nossa campainha, era o menino, a mãe e o pai dele. Acabavam de chegar do hospital. O menino tinha levado uns pontos na testa. A pedrada não tinha sido bolinho não.
Minha mãe abre a porta, meu estomago gela. Ouço a mãe do Alessando ( esse era o nome dele) pedir prá me chamar por que eles queriam falar comigo.
Vou até a sala, que alternativa tenho eu, afinal?
O menino tremulo, fala:
- Inaie, desculpa. Eu não deveria ter te chamado de Bruxa dos Sete Mares.
Minha mãe me olha incrédula, mas antes de ter tempo de perguntar o que estava acontecendo, a familia marcha para a sua própria casa.
Não me lembro do resto da história. Não me lembro de ter ficado de castigo, nem de ter sofrido nenhuma consequência pela pedrada certeira,acho que ficou tudo por isso mesmo, mas posso afirmar que aquelas duas horas foram as mais angustiantes da minha infancia. Eu estava só esperando aquela campainha tocar...
PS O Alessandro infelizmente faleceu aos 17 anos, num acidente de carro. Na época da sua morte, éramos bons amigos. Ele se tranformou num cara decente e bem legal ( será que a minha pedrada ajudou?) Não me lembro de ter pedido desculpas pela bordoada, mas se você estiver me ouvindo, Ale, eu peço desculpas agora. Eu só queria assustar vocês, não era pra pontaria ter sido tão boa assim...
******************************
I lived in a compound, one with many, many children. Everybody loved playing in the street. Playing in the street was still allowed back then. Firstly because it was not quite a normal street, it was inside the compound, only residents had access and there were security guards everywhere.
One night I went out to play, I was about 9 years old, my hair was very long, reaching the middle of my back. I never combed my hair and I still don't . To be honest, I don't owe a comb or a brush. I swear. I always washed my hair, passed my fingers through it, and I was done.And that day when I got closer to the other kids, the started calling me "the seven seas witch". I asked the to stop, they did not. Seven seas witch! Seven seas witch! Seven seas witch! My blood waswarming up. Seven Seas witch!! Seven Seas...I do not remember having anything planned, but I still remember the scene in slow motion. One of the boys came out from behind the car where they were all hiding and I trew a stone on his direction. It landed on his forehead. The forehead opened. There was blood everywhere.I run home and pretended nothing happened. I was scared. My mother must found it strange the fact I was home so early, but she did not ask, I did not tell.Two hours later, our doorbell rings, it was the boy's parents. They had just arrived from the hospital. The boy had a few stitches in his forehead.
My mother opened the door, my stomach froze. I heard Alessandro's mother (this was his name) asking if they could please talk to me.I went to the living room, what alternative did I have, anyway?The boy trembling, says:- Inaie, I am sorry. I should not have called you the Seven Seas Witch.My mother looks at me incredulously, but before any of us had the time to say anything, the family marched back to their house, leaving me speechless.I do not remember the rest of the story. I do not remember being grounded, having suffered any consequences for my actions, I think that was the end of the story, really, but I can say those two hours were the most terrifying of my childhood. I knew that bell would ring sooner or later ...
Alessandro sadly passed away in a car accident when he was 17 years old. At the time of his death, were good friends. He turned out to be a fine guy ( maybe the stone helped?) I do not remember ever apologising for hitting him, but if you're listening, Ale, I apologize now. I just wanted to scare you guys, make you stop. I never imagined I would be so good at it ...
Há 2 anos
Me emocionei com o final e me impressionei com os pais do Ale!
ResponderExcluirMuitos pais tendem a proteger os filhos e acharem que eles estão sempre certos.
Parabéns pros pais do Ale, é por isso que ele cresceu e se tornou um rapaz decente.
Somos como nossos pais - na maioria das vezes! :)
Beijão!
Own ,q linda atitude deles! amei isso dos pais terem pedido desculpa, mas enquanto estava lendo, estava quase roendo as unhas pra saber a sua reaçao no momento, kkk, ainda bem q vc nao levou bronca, neh? e se levasse, vc agiu em legitima defesa, rs.
ResponderExcluirCoitado do ALè, e q linda atitude a sua , mesmo ele nao estando entre nos fisicamente, com certeza, vc esta perdoada, pelo seu arrependimento sincero :D
um bjo enoooorme!
ah, e sobre o post anterior, minha mae tbm e uma briguenta incorrigivel ate hoje. o q tem de boa, de generosa, e sensivel, tem de briguenta e imbancavel as vzs....rs.
Se todos os pais agissem como os do Alessandro
ResponderExcluiros filhos seriam melhores.
Muito legal sua postagem, e escreves de uma
forma gostosa de ler.
Abraços! Tudo de bom pra ti.
Inaie eu me lembrei agora de um primo meu, temos a mesma idade. Lembro me a vida toda enquanto eu era criança que ele me batia, sempre que ia lá em casa com os pais, ele acabava me machucando, era uma pedrada, um chute no estomago, quebrava meus brinquedos, enfim um inferno. Minha màe sempre disse que ele era uma criança ruim e que eu não deveria ficar perto dele (como se eu tivesse escolha dentro da minha própria casa). Um dia eu havia quebrado o braço nas férias, eles foram me ver, trouxeram o Erik meu primo, o Erik então aproveitou que eu estava com o gesso e chutava o meu braço quebrado, ninguém fazia nada, e eu chorava. Quando ele foi embora, meu pai disse que eu precisava fazer algo sobre isso EU, não ninguém. Que eu tinha que aprender a me protejer e eu fiquei com aquilo na cabeça, ou me defendo ou vou apanhar do Erik a vida toda. Um dia ele tentou me bater novamente, eu agarrei uma vassoura que estava perto e bati tanto nele com a vassoura que quebrei o cabo nas costas dele. Ninguém falou nada quando ele saiu chorando e foi contar para os pais. Também não recebi elogios de ninguém por ter me defendido, mas eu senti uma sensaçào tão boa te nào ter apanhado naquele dia. Foi então que o menino mudou da água pro vinho, ele nunca NUNCA mais me bateu, virou uma pessoa bacana e hoje em dia é um rapaz ótimo, com um coração enorme, e eu brinco dizendo que foi a surra que eu dei nele. ahahhaha
ResponderExcluirbeijos
Bacana ter lido isso...não era esse o meu propósito, mas me deparei com um belo texto. procurava algo sobre as Canárias (estou indo prá lá hj) e confesso que nem lí mais nada...essa sua estória é linda. Quando somos jovens fazemos e passamos por várias fases, eu mesmo, encontrei tantas meninas lindas depois de tê-las vistos feias no passado. Nos transformamos, piorar ou melhorar é consequência da evolução!
ResponderExcluirQue mira...
ResponderExcluirE ele te perdoa, para voltar conversar com vc ele no minimo era bem evoluido...
Caramba, esse PS foi pesado! Triste, claro, mas bonito também. Bom achar que sempre é tempo de se desculpar por algo. E belíssimo exemplo a família desse rapaz.
ResponderExcluirBjos!!
Ah, não consigo comentar no blog da dona Cirlei. Será que fui vetado?? ;)
ResponderExcluirLi todos os posts sobre bullying de uma vez!!! AMEI todos!!! Não foi morte do garoto aos 17 que o desculpou pelo que fez aos 13. mas sim a sua pedrada, que o ajudou a ser mais legal, e mais especialmente a mostrar aos pais dele - que foram PAIS de verdade - o que o filho fazia. E, como eles cuidaram direitinho, colocando o nego pra se desculpar... no final deu tudo certo.
ResponderExcluirQuanto ao acidente... aí é outra história!
Beijo, Bruna Lombardi!
¡Conmovedor!, un grato placer pasar por tu espacio.
ResponderExcluirque tengas un feliz fin de semana.
un abrazo.
Menina como tu era atentada vice rsrsrs pense na pestinha de 9 anos rsrss.
ResponderExcluirTb com esse cabelao liso quem precisa de escova né? rsrs
bjs
Amiga, paro , com gosto, no teu blog para ouvir as tuas peripécias. Gosto muito, muito!
ResponderExcluirObrigada pelos momentos de prazer que assim, de tão longe, me ofereces.
Beijo da Nina
Infelizmente esse tipo de coisas são brincadeiras de criança. E se todos os pais tivessem a mesma atitude que os pais do Ale fizeram, talvez o mundo não teria tantos jovens inconsequentes. Pelo menos, vcs se tornaram amigos depois e é isso que vale. bjo
ResponderExcluirTaí que vc me deu uma idéia! Vou apelar pra pedrada agora, rs!
ResponderExcluirBjs
Eu confesso que me emocionei com o final da história.
ResponderExcluirMas, ri um bocado com o depoimento da SW. Ri muito agora!
Inaie, que fatalidade! Acho que todos nós temos uma passadinha dessas para contar. O preço é meio alto, mas a gente aprende muito com isso.
ResponderExcluirUm abraço
Manoel