sábado, abril 23

Nunca - Nunca mais


Tres vezes eu disse:

- Isso? Isso eu nao faco NUNCAAAA...

E as tres coisas eram: saltar de para quedas.

Saltei.

Pular de bungee jump.

Pulei.

E assistir a um parto.


Pois era fim de semana prolongado na camelandia quando eu resolvi ligar para um casal

de amigos para jantar no dia seguinte.

A resposta veio um tanto de sopetao:

- Claro. Amanha a gente vai a obstetra e vai pedir para ela induzir o parto. Se der errado, a gente sai pra balada sim!

IA ser a primeira vez que eu ia sair com alguem "se desse tudo errado".

No dia seguinte, Depois da tal consulta eu ligo, na maior esperanca de encontrar meus amigos "filho free" pela ultima vez, mas descubro que a conversa foi boa e a medica vai tentar expulsar Leticia da panca da Adriana no dia seguinte.

Meus planos foram por agua abaixo, e numa ultima tentativa de recuperar um pouco da diversao, eu sugiro:

- Quer companhia no hospital amanha?

- Precisa nao. Quero atrapalhar nao. (sim, ela e Recifense)

Entendi a deixa - Adriana queria ficar sozinha com o marido e curtir esse momento a dois. Os ultimos.

MAs nao perdi as esperancas. Quem sabe eles nao mudam de ideia?

Corri ao shopping e comprei presente para ela, para a bebezinha, cafe para o dia seguinte, caso eu acabasse me enfinado naquele hospital.

LA pelas dez, recebo uma ligacao, dizendo que eu poderia ir, se eu quisesse. Que ela nao queria incomodar, mas "ate que gostaria" de companhia.

7 da manha eu ja estava no taxi, com a minha malinha de presentes e os sachets de cafe - para mim e pro marido. Nos iamos precisar ficar acordados, afinal!

Como o parto seria induzido, nao teve corre-corre, nem grita-grita, nem xilica-xilica.

Foram horas agradaveis.

Nos rimos, conversamos, brincamos. Contamos contracoes, cronometramos as dita cujas...

E finalmente a dor chegou.

Quando o bicho pegou e a enfermeira comecou a organizar tudo na sala de parto (anestesia nela, claro), a Adriana ainda teve tempo de me dizer:

- Inaie, pegue la meu batom, por favor.

Peguei nada. Era o que me faltava. Eu la, toda descabelada, ansiosa e emocionada e a mae penteada e batonzada? Era demais. Batom nao.

Depois da anestesia Dri caiu no sono e eu e o marido aguentamos o tedio com firmeza e determinacao. Nos e que nao iamos dormir. Tinhamos cafe para aguentar dias se necessario

fosse.

Meu celular estava sem credito, mas eu nao me atrevi a ir ao boteco (no andar de baixo) comprar outro cartao, por que o bebe poderia chegar a "qualquer minuto".

Foram 1080 ao todo.

MIL E OITENTA minutos. 18 horas.

E eu sentadinha feliz da vida ao lado da futura mamae que dormia o sono dos justos - pela ultima vez. Li duas revistas, um livro, assisti TV.

E finalmente a medica diz:

- VAi la buscar o pai. O bebe vai nascer.

Adriana teve uma ideia fantastica. Eu ficaria com ela ate o bebe comecar a nascer - ai eu ia buscar o Sergio e sairia da sala (onde so pode ficar uma pessoa que nao esta parindo e nao e da equipe).

Segurei a mao da Adriana e fiquei la, firme. Tao firme que eu parecia plantada no chao em dia de tempestade. Meus pes nao saim do chao, mas as pernas tremiam mais que vara verde...

Eu so consegui dizer para a medica: se precisar de alguma coisa e so pedir...desde que eu nao tenha que dar NENHUM passo.

Nunca vi peridural contagiosa, mas se as pernas da Adriana estavam paralisadas, as minhas ha muito estavam pregadas no chao.

E ela (de batom - naos ei onde ela arrumou um, eu nao dei!) sorrindo.

Juro que a minha amiga sorria.

E depois desatou a rir. Disse que era engracadissimo me ver branca feito um papel e o marido escondido atras da cortina da sala de parto.

E de repente, sem mais nem menos, a medica diz:

- Olha aqui !

- Nao.

- Olha aqui. Agora.

- Nope.

- Olha ja aqui que nos vamos ter um bebe !

Achei que se nao obedecesse ia levar um sopapo, entao muito contra todos os meus principios, dei uma espiadela e vi Leticia chegar a esse mundo. Tenho que confessar que foi uma das emocoes mais fortes que eu ja senti. E o milagre da vida, acontecendo ali, na minha frente.

Linda como a mae (mas sem batom e despenteada como a tia), olhou pra um lado, pro outro e abriu a boca a chorar.


E eu aprendi a minha licao. Nunca mais digo nunca!!!