segunda-feira, março 14

Brasil, meu Brasil brasileiro...

Hoje eu estava aqui, feliz da vida lendo a veja, quando dei de cara com uma matéria falando de emigração. Puta que o pariu, somos 2 milhões de brasileiros morando aqui e ali e lá.Dois milhões de brasileiros espalhados pelo mundo.

Eu estava ate achando graça, ate que li:
"Imigrante acha que vai voltar ao país de origem, mas alguns repetem a mesma estória por 40 anos, e nunca voltam".

Isso me deixou pensando nas implicações de voltar para casa. Achar as ruas sujas e a bandidagem solta, esperar encontrar os amigos e recomeçar a conversa de onde nos paramos, dez anos atrás, e descobrir que tudo mudou.

Fiquei pensando que depois de sair do Brasil, as minhas opções diminuíram, na verdade. Antes eu podia morar em qualquer lugar do mundo, tudo ia ser novidade. agora, eu tenho a imagem do Brasil dourado que eu deixei para
trás, os amigos, as oportunidades, o calor humano.
Onde mais a gente pega um táxi e acaba jantando na casa do taxista, Carmen?

E tenho a vivência da realidade dos paises desenvolvidos. As pessoas são frias, são sim, mas você está a salvo nas ruas e o desemprego não ronda a sua porta. As opções diminuíram sim. Que maluco!! A felicidade fica mais difícil quando você tem comparações a fazer.

Sempre achei que feliz era a minha avó, morando em Lindóia, sem nunca ter saído de lá, sem saber as oportunidades e os horizontes que ela deixou de
conhecer.

Meu avô, morreu achando que a ida do Homem a Lua era pura balella. Feliz era ele, feliz era minha avó.

E eu aqui, com tantas opções, morrendo de medo de fazer a minha escolha. Porque quando você escolhe, tem que pagar o preço, certo?

O meu país de sonhos continua sendo o Brasil. Me esqueço que sai daí depois de ter uma automática apontada para a cabeça das minhas filhas, que sai dai com medo de levar um tiro no sinal, que não dormia sem roupa com medo do
bandido entrar na minha casa para assaltar e acabar tendo outras idéias.

Será que isso significa mesmo que eu nunca mais volto pra casa?

A Austrália é linda, a Nova Zelândia acabou de nos dar residência permanente, mas continuo achando que o meu país vai sair da crise, que a violência vai desaparecer das ruas, que eu vou poder voltar sã e salva.

Voltar para casa.
Eu e dois milhões de outros brasileiros

2 comentários:

  1. Muito legal esse texto. Sua abordagem toca bem dentro na ferida que so conhece quem teve a coragem de se aventurar pelo mundo afora. Tudo eh muito lindo, a experiencia eh riquissima e eu nao me arrependo de ter vindo. Hoje eu to "feliz" aqui. Optei pela seguranca e estabilidade financeira(apesar de ainda viver com o salario de ajudante de cozinha, mas pelo menos vivo dignamente). Abri mao dos feriados na casa de praia com os irmaos, sobrinhos, tios, cachorro, papagaio. Abri mao de ver meus sobrinhos e os filhos dos meus sobrinhos crescerem. Abri mao de ver minha mae envelhecer, de chorar com minhas irmas por causa do primeiro cabelo branco que eu so vi dois meses atras. Abri mae da agua quentinha do mar, do sol que bronzea e nao queima, da agua de coco geladinha. Abri mao de ser chamada de gostosa na rua pelo servente de pedreiro - aqui se vc sair pelada na avenida ninguem repara.Mas enfim, nao se pode ter tudo na vida, e entre ter tudo isso e poder voltar pra casa meia noite sem medo de ser sequestrada por causa de um par de tenis eu fico com a segunda opcao.
    Sempre lembro de uma frase que voce me falou logo que eu cheguei aqui: "depois que voce entra naquele aviao da Vasp, nunca mais voce eh feliz". Eh a mais pura verdade. Nunca mais eu consegui ser feliz daquele jeito de antes, porque agora eu conhoeco o outro lado, agora eu tenho o que comparar. E qualquer que seja a nossa escolha, vai ficar sempre faltando alguma coisa que ficou perdida na opcao que a gente nao fez. Se eu voltar pro Brasil vou passar o resto da vida lembrando de como era bom fazer picnic nos parques de Melbourne sem nenhum trombadinha perto de mim. Se eu ficar em Melbourne vou passar o resto da vida lembrando de como seria bom se minha familia estivesse aqui, se a agua do mar fosse quente, se eu pudesse dirigir na mao esquerda...
    Por isso que o importante eh tentar viver o agora, deixar o passado pra tras e entregar o futuro a Deus. O negocio eh tentar ser feliz consigo mesma, porque ai a gente vai estar satisfeita em qualquer lugar - ainda que no fundo no fundo, a gente morra de vontade de que esse lugar seja nosso querido Brasil.

    beijocas
    Roseli

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  2. Minha amiga,

    Essa estoria de "eu era feliz e nao sabia" e a mais pura verdade.
    MAs com o passar do tempo (eita a idade chegando), eu tambem fui descobrindo que nao da para viver de lembrancas e nao da para comparar laranjas com chocolate.
    Tem lugar para tudo na vida da gente.
    Eu sai do Brasil ha 5 anos.
    Ja e o meu quarto pais, incluindo o Brasil.
    NAo sei onde vou parar e nems e vou parar.
    E descobri a beleza da peregrinacao.
    Nada tem que ser para sempre.
    Nos, imigrantes, temos na verdade muito mais opcoes que os outros.
    JA cortamos as amarras, ja nos lancamos ao mar.
    Podemos tudo agora.
    Nao doi deixar a mae, a vizinha e o cachorro.
    Eles ja ficaram muitas luas atras.
    E muito mais facil ser livre hoje!

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