segunda-feira, março 14

Encarando o preconceito

Já viajei um pouco, já morei na Austrália, trabalhei e estudei lá.
Fiz um curso (resolução de conflitos) onde eu era a única estrangeira e sempre fui muito bem tratada.

Não tenho nenhuma reclamação.

As pessoas falam do meu sotaque, perguntam sobre o Brasil e me tratam muito bem obrigada.

Pois eu sempre me senti em casa, estivesse onde quer que fosse.
E na Nova Zelândia, eu estava ainda mais em casa. todo mundo aqui e muito doce e agradável.

Arrumei um trabalho extra, pra me ocupar e juntar uma graninha, já que ninguém e de ferro, certo?

Passei por um processo seletivo enorme. Sete testes. A empresa diz que só contrata os melhores.
E dá-lhe teste. Entrevista, teste de inglês, matemática, telefone, audição (para ver quão bem eu entendo o sotaque estranho desses kiwis), personalidade, outra entrevista, exame medico.
Ufa, passei!!!

Meu primeiro dia de trabalho a empresa estava toda decorada para me receber. Laços de fita pela sala inteira, vindo formar um arranjo lindo atrás da minha cadeira. Muffins e bolos no chá da manha para me dar as boas vindas...e eu me sentindo o máximo.

Vou trabalhar como atendimento ao cliente, que e o primeiro degrau dentro da empresa. uma multinacional conhecidíssima e muito bem conceituada.

Pois é. Me lembrei de todas as teorias de marketing...funcionário feliz trabalha mais, veste mais a camisa, se dedica! E esse pessoal esta mesmo no caminho certo.

Passei duas semanas andando por todos os departamentos para conhecer ate pelo avesso o funcionamento da empresa e ver como as coisas fluem. Eu estava feliz da vida. Ambiente agradável, pessoal ótimo. Um dinheirinho no bolso no fim da semana. Sopinha no mel, como diriam uns e outros.
Até que...

Comecei meu treinamento.

Primeiro dia, nada de trabalho.

Conversamos, falamos dos nossos pontos de vista, da nossa vida particular, trabalhamos no sentido de nos conhecer melhor e poder encarar mais facilmente as cinco semanas de treinamento que estavam por vir.
Ótimo.

Eu tenho mesmo umas idéias mais avançadinhas, isso não e novidade para ninguém. Defendo o direito as diferenças, sejam elas quais forem.

No fim do dia, a super treinada treinadora diz em alto e bom som: - Eu não gosto de estrangeiros e nem de pessoas com sotaque. Especialmente trabalhando em "call centres"...

Ai, ai, ai.

O que pode ser mais pessoal que isso?
Pensei, pensei e pensei.Pensei rápido.
Chamei a desinfeliz para conversar num lugar privado e disse no tom mais suave que eu pude encontrar:
- No meu país isso e muita falta de educação, mas aqui, no seu pais,isso é crime. Eu adorei a companhia e todas as pessoas que trabalham aqui e gostaria de te dizer que você me colocou numa situação muito desagradável. Eu vou detestar ter que processar você pessoalmente e a empresa por conseqüência.

Virei nos pés e fui embora fula da vida. Embora para a sala do diretor, que me recebeu todo sorrisos...

- Simon, me desculpe, mas o assunto que me traz aqui e muito desagradável...contei a estória e disse que ainda não tinha me decidido quanto a atitude a tomar e que eu estava pensando duas vezes devido ao carinho com que todo mundo sempre havia me tratado na empresa.

Mais uma vez virei e fui embora,sem que ele tivesse tempo para responder. Depois disso a boboca veio me pedir desculpas formais e eu ainda não em decidi sobre entrar com um processo contra ela ou não.

Procurei meu advogado e infelizmente não posso processá-la sem envolver a companhia, que tem tido um comportamento exemplar....

Ai, ai, ai, que decisão difícil!



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