segunda-feira, março 14

Puta preconceito

Hoje fui tomar um cafezinho na sala arco íris da La Trobe, universidade onde
estou terminando minha pós graduação, aqui em Melbourne.
Vocês sabiam que todas as universidades daqui tem uma sala arco íris?
Um lugarzinho onde você pode relaxar, livre de preconceito ou olhares
enviesados...
O café estava ótimo, apesar de australiano e eu fiquei um tempo lá, jogando
conversa fora, ate que vi um artigo sobre uma tese de mestrado defendida
aqui em Melbourne, falando de violência contra homossexuais.
Comecei a ler o artigo, ate que descobri que dos três casos estudados, DOIS
são brasileiros, e o terceiro africano.
Fiquei tão envergonhada que não sabia se continuava lendo ou fechava o
jornalzinho.
Eu fico imaginando por que um povo tão sofrido quanto o nosso, que tem um
salário mínimo estipulado em 150 reais, que trabalha dia e noite para se
sustentar, que tem ensino publico e péssima qualidade, saúde publica falida,
assistência social inexistente, pode ser tão preconceituoso.NÃO deveria ser
exatamente o contrário?
Nós deveríamos nos unir, ser solidários, nos ajudar e não ficar atirando
pedras no telhado do vizinho (que afinal e o nosso próprio, certo?).
Me lembro da inauguração de uma boate gay em Campinas em 1999, um pouco
antes de eu me mudar para a Austrália. Estive lá com uma amiga, e me lembro
muito bem do pânico das pessoas na fila:
Será que o pessoal dos prédios vai jogar saquinhos de xixi na gente hoje?
Será que um maluco vai passar atirando?
Será...
Eu nunca tinha passado por nenhum desses medos na minha vida e confesso que
fiquei muito impressionada com a nossa vulnerabilidade.
Como é que alguém se acha no direito de chegar e agredir uma outra pessoa
que pensa, age ou ama diferente?
Quem tem esse direito, oras bolas?
E por outro lado, o que podemos fazer para nos proteger desses malucos?
Só consigo ver uma resposta, por mais que eu pense e pense a respeito.
Nos temos que educar as crianças que estão aí, que ainda não sabem nada da
vida (ou sabem mais que nos?) e ensiná-las sobre a beleza da diversidade.
Alguém já imaginou como esse mundo seria insuportável se nos fossemos todos
iguais?
E eu fico aqui, como uma boba imaginando se vou deixar para as minhas filhas
um mundo melhor, onde não importa o que você veste, o que você tem, as suas
crenças, as suas preferências, mas só o que você é.
Essa e a única herança que eu quero deixar para esses dois projetinhos de
gente : um mundo melhor, mais justo, mais gostoso pra se viver!!
To pedindo muito, Luciane?



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