terça-feira, novembro 27

ASHURA


Esse ano, tive dificuldade em escrever esse post. Já disse tanto nos posts de 2010, publicados aqui e aqui, que fiquei com medo que esse ficasse redundante.

This year it took me forever to manage to write my ashura post. I wrote so much in 2010, posted here and here that I am afraid this post will be a repetition...

Wikipedia - O dia da Ashura é o décimo dia do Muharram do calendário islâmico, marcando o clímax da reflexão do Muharram
Ele é celebrado pelos muçulmanos  xiitas como o dia do martírio de Husayn ibn Ali, neto do profeta Maomé, na Batalha de Karbala ( Iraque)

Essa é a definição da ASHURA na wikipedia. Há dois anos, estive nas ruas com a população xiita e presenciei pela primeira vez o ritual. Conto a minha primeira experiencia aqui.
Desde então, alguns amigos estrangeiros me pedem para ir com eles á ASHURA. Apesar da intempéries politicas, esse ano decidi ir novamente. Eramos seis estrangeiros, três homens e três mulheres. Nosso anfitrião dessa vez foi um dos alunos do Fábio.
Antes de entrar no discurso religioso, eu preciso dizer o quanto eu me senti acolhida, benvinda e paparicada por todo mundo que estava ali pelas ruas.
Existe no ar um certo orgulho em poder compartilhar esse sentimento de dor e luto com pessoas que não conhecem a história, que não fazem parte da religião.
Assim que chegamos, o Ali foi nos levar para conhecer os MATAMS ( locais onde familias xiitas se reunem para estudar o al corão, para aprender mais sobre a religião, entre outras coisas).
Fomos recebidos em todos os lugares com sorrisos no rosto, com comida e bebida á vontade. As pessoas nos paravam na rua para perguntar de onde nós eramos, para nos fazer sentir acolhidos e benvindos.
Divido com vocês, um pouco da minha experiencia.


Wikipedia -  Day of Ashura -is on the 10th day of Muharram in the Islamic calendar and marks the climax of the Mourning of Muharram.
It is commemorated by Shi'a Muslims as a day of mourning for the martyrdom of Husayn ibn Ali, the grandson of Muhammad at the Battle of Karbala ( Iraque)

This is the wikipedia definition, however I wish to share with you my own experience, my views, my feelings and my vision of this day.
This is the second year I join the Ashura celebrations and this time I took several friends with me. We were 6 in total. Me, my husbands and four people no one at the villages knew.
I have to say I have never felt so welcome, so cared for, so pampered.
We first visited the matams ( place where shiá families meet to study the al corão, learn more about religion or discuss important matters) in Manama. Everywhere we went we were greeted with smiles, food and drinks.
Walking on the streets, people would stop and greet us. Ask where we were from, have a lil chat with us, making us feel comfortable and safe.
ASHURA is a sad day, a sad month in fact, but in the village, we felt a warm embrace, and the feeling they wanted to share their religion and their beliefs with us.
Here is a lil bit of what I saw and experienced.

Manama and other Shia Villages dressed up to mourn the death of Iman Hussain and his family, some 1300 years ago.
 
Manama e as outras vilas xiitas de Bahrain se "enfeitaram" para lamentar a morte de Iman Hussain, mais de 1300 anos atrás.

 
Houses, walls, matams, they were all adorned to reflect their pain and sorrow.
 
Paredes, muros, casas e becos. Tudo lembrava a dor e o sofrimento dos fiéis.

 
Families provide food to everyone who come to mourn Iman Hussain's death. Because he and his family were deprived from food and water for days before they were killed, there is enough food available to feed the whole island.
Sandwichs, hot meals, finger food as well as water and juices are offered free of charge to whoever is around.
 
Familias passam dias cozinhando para alimentar as pessoas que vem lamentar a morte de Iman Hussein. Ele e a sua familia foram privados de comida e água antes de serem mortos, e a abundanca de comida é uma forma dos xiitas prestarem sua homenagem ao seu martir. Além da hospitalidade ser uma das grandes características dos Árabes em geral.
Havia comida suficiente para alimentar todo o país.
Sanduiches, arroz e carne, petiscos, além de água e suco estavam disponíveis para quem passasse por ali.
 
 
Todos os anos, artistas se unem para retratar o martírio da familia de Iman Hussain. Os quadros ficam em exibição durante os dias de lamento e estão á venda. Artistas com todos os níveis de habilidade expõe, lado a lado, todos com o objetivo de expressar sofrimento pelas mortes de Karbala.
 
Every year, several artists with different abilities produce paintings depicting the scenes of the Karbala deaths.

 
No one is too small to join in. It is quite common to see babies and small children dressed up like Hussein's family members.
 
Crianças de todas idades participam do evento. É comum ver criancinhas e bebês vestidos como familiares de Hussain.

 
A mixture of curiosity and cultural interest drag many expatriates to Ashura. The locals are overwhelmingly welcome, making sure we feel safe, comfortable and respected at all times. They are keen to show us what Ashura is all about and it is not uncommon to have strangers coming up to us to express their pleasure in having us amongst them.
Along with their greetings and open smiles, the insistance in feeding us is constant.
 
 Um mixto de curiosidade e interesse cultural atrai muitos estrangeiros ás vilas. A minha experiencia é inacreditavelmente positiva. Todas as vezes que eu visitei a Ashura, fui recebida de braços abertos, e provei a extrema hospitalidade e generosidade do povo local.
Além das pessoas virem nos cumprimentar, eles se colocavam a disposição para responder perguntas, dar informações e esclarecer qualquer dúvida que nós tivessemos.
Além de nos oferecer comida e bebida o tempo todo.

People from all over the island gathered here . There was enough food and drinks to feed the whole island. During the 10 days of Muharram, worshipers mourn the death of Iman Hussein and his whole family. There are no happy celebrations during the whole month. No weddings, no birthday parties, no parties in general.
 
pessoas de todos os lugares de Bahrain se reunem em Manama ( embora todas as villas tenham a sua própria celebração da Ashura, Manama é sem duvidas a maior concentração de fiéis).
Durante o mês de Muharram, os xiitas banem qualquer tipo de festividade ou celebração. Não há casamentos, nem festas de aniversário. Na verdade, não há festa de nenhuma espécie.


 
This is the Persian Mosque in manama. Just gorgeous!
 
Essa é a mesquita Persa no coração de manama. Ela é simplesmente linda!

 
Some women prefer to see it from the distance and just watch it from their windows.
 
Algumas mulheres preferem não se misturar ás massas e escolhem ter uma visão privilegiada, de suas janelas.
 
 
Other women chose to hide behind plastic curtains, to preserve their clothes from possible unwelcome splashes. Just some more pics and you will understand what I am talking about
 
Outras mulheres se aglomeram atrás de uma cortina de plático, para ter uma visão mais próxima, sem correr o risco de terem as suas roupas sujas por possiveis "espirros". mais um pouco e você vai entender perfeitamente a que eu me refiro...
 
The braver women sat on the sidewalks, with no protection between themselves and the Haidar.
 
As mais corajosas sentavam na calçada, sem nenhuma barreira entre elas e os homens da Haidar.
 
 
This is the Haidar, a practice that is loosing it's appeal, but still happens in several countries, including Bahrain.
Man use whips with blades on the end of the chain and hit their backs insensantly.
It is scary to watch it and the smell of blod is almost unbearable.
I almost trew up.
 
A Haida é uma pratica que aos poucos está caindo em desuso, mas ainda acontece em vários países, inclusive Bahrain.
Homens caminham em procissão, batendo nas próprias costas chicotes com laminas nas pontas.
A cena é assustadora. O cheiro de sangue é quase insuportável. Eu quase vomitei.
 
 
Paralysed, with my eyes wanting to jump off my face and my stomach in knots, I watched as the man passed by, cutting themselves.
This was the first time I saw it actually happening. Last year, I only watched the parade, men bleeding after they cut themselves.
 
Paralisada, com os olhos arregalados e o estomago em nós, assisti a procissão que se auto flagelava. essa foi a primeira vez que eu vi a cena pessoalmente. Em 2010, eu só vi a passeata, depois que os homens já tinham se cortado.
 

 
I hid behind a friend who chose the first row. In the end, he had blood splattered all over his arms and clothes.
 
Fiquei escondida atrás de um dos meus amigos, que preferiu a primeira fileira. Ele ficou cheio de respingos de sangue.
 
 
Muitos grupos estão incentivando que os homens doem sangue ao invés de derrama-lo, e ano a ano aumenta o numero de pessoas que adotam essa pratica.
 
Many groups are advocating in favor of blood donations, instead of self cutting, and every year the number of people who join the Haidar gets smaller.
 
 
 E assim que os grupos de haidar passam, a turma da limpeza publica passa atrás, limpando o sangue do chão, com água e sabão.
 
And straight after the religious groups, come the cleaners, washing the blood away with water and soap.
 

12 comentários:

  1. ahhhh!!! eu lembro do seu post do ano passado!
    Eu acho assim, cada um segue e pratica o que acha que ta certo.. quem sou eu pra recriminar? Ainda mais nesse ambiente tao acolhedor?
    Eu so nao sei se conseguiria comer, beber suco e ver os caras de machucando desse jeito.

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  2. Muito interessante cohecer um pouco mais sobre esses costumes tão diferentes dos nossos!
    Sobre a auto-flagelação, quem sou eu para julgar sem ter o conhecimento necessário, mas aprovo a idéia de substituir pela doaçéao de sangue (ou outro tipo de ação que resulte em algo postivo à comunidade).

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  3. Não sabia desse costume... Esses tempos vi um documentário em que os judeus iam até Polonia visitar os campus de concentração... Todos eles fazem isso na época escolar. Bjos

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  4. O seu amigo teve respingo de sangue? Nossa... é tanto assim?

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  5. Nossa que coisa, não imaginava que isso existisse! Obrigada por compartilhar!

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  6. Eu acho esses eventos muito interessantes e acho legal vc participar deles já que mora aí. A gente não acredita como o ser humano pode se autoflagelar, mas faz parte do ritual. O bom de viajar e conhecer outras culturas faz com que não olhemos as coisas com cara de assustados, mas sim com interesse em conhecer de onde surgiu tudo isso.

    Lindíssimas fotos!

    Kisu!

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  7. Uma experiência que marca, principalmente pela boa acolhida.
    Creio que a doação de sangue, aos poucos, substituirá de vez a flagelação.
    Beijos,
    Élys.

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  8. As fotos ficaram muito boas!

    Eu acho que eu nao iria ter estômago pra ver a procissao. Em todo caso, gostei da ideia de doaçao de sangue.

    Bjs!

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  9. Adorei saber sobre essa tradição e da boa acolhida que vocês tiveram!! Sim os árabes tem a fama de hospitaleiros e podem falar o que quiser deles, mas ô povo que cozinha bem :-). Também apoio a idéia da doação de sangue ao invés do auto flagelo.

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  10. Inaie, vivendo e aprendendo mesmo. Espetacular essa reportagem que você fez. Bacana o tipo de fé do povo e a acolhida deles.
    Fico curioso por saber como você se sente ao ir descobrindo essa cultura completamente diferente da nossa. Esse nosso mundo é cheio de mistérios mesmo.
    Um abração
    Manoel

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  11. Sensacional este seu relato... Eu sempre acabo aprendendo muita coisa quando passo por aqui!

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  12. Sabe que nunca esqueci aquela postagem de 2010?
    E até hoje me pergunto se teria coragem de ver a procissão, já interagir com pessoas amáveis é outra história, adoraria!
    Gosto tanto da ideia da doação de sangue!
    bjs
    Jussara

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